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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O jornalista e o policial

                  Desde o curso de formação o policial ouve que deve-se tomar cuidado com os jornalistas, pois uma palavra dita a mais ou a menos pode ter conseqüências drásticas para a instituição que o policial serve. Nós, policiais, sempre achamos que o repórter quer tão-somente vender suas matérias, e que vai buscar sempre o extremo negativo dos fatos, tendenciosamente roçando os limites da veracidade, para se dar bem em seus anseios capitalistas. Não é mentira que existe ainda muito sensacionalismo na cobertura da mídia a acontecimentos relacionados à polícia, mas existem algumas explicações para isso.
Desde a Ditadura Militar (a que se iniciou em 1964), ou pelo menos foi durante ela que isso se recrudesceu, existe uma relação conflituosa entre imprensa e polícia. Primeiro porque a imprensa, instrumento que só funciona bem nas democracias, sofreu várias restrições legais naquela época, onde prisões e outras coerções eram comuns para quem tentava exercer qualquer coisa que se parecesse com liberdade de expressão. Ora, se o instrumento da sociedade para tentar se expressar era a imprensa, qual foi o instrumento do Estado para exercer essa coerção? A polícia — e aqui peço ao leitor que seja flexível ao entender os conceitos de “imprensa” e “polícia”.
Estabelecido um motivo histórico para nossa rixa, fica mais fácil entender o estereótipo criado por policiais em relação aos jornalistas, e dos jornalistas em relação aos policiais. Eu os descreveria mais ou menos assim:

O jornalista (pelo policial)

       Sensacionalista e interesseiro, costuma fazer perguntas capciosas no intuito de fazer com que o policial se enrole em uma entrevista. Nunca ouve o lado da polícia, e desconfia que o que falamos é mentira. Nos vê como matadores, truculentos, corruptos e ignorantes.

O policial (pelo jornalista)

       Truculento e corrupto, costuma esconder os abusos que faz em sua atuação. Não sabe falar, e não colabora com a imprensa, que nada mais quer do que tornar claro para a sociedade a polícia que ela tem. A polícia age como se ainda estivesse na Ditadura, sem querer dar satisfação aos cidadãos.
Caso de Polícia EXTRA
          Existem policiais corruptos e truculentos? Sim. Existem jornalistas sensacionalistas? Sim. Acredito que ambos incomodam suas classes quase que da mesma maneira. O problema é que percebe-se, dos dois lados, profissionais que não se enquadram em qualquer das especificações acima (extremadas e estereotipadas), mas têm, sim, algo contra jornalistas (ou policiais) e não sabem necessariamente o que é.
Lembro-me que em certa palestra ministrada na Academia de Polícia Militar, onde só policiais estavam presentes, o Major Menezes, Comandante da RONDESP (PMBA), disse que  via os jornalistas como parceiros,  e não tinha o conflito que costuma marcar esse tipo de relação. O Jorge Antonio de Barros, jornalista de O Globo que cobre criminalidade e segurança pública no Rio de Janeiro desde 1981, já disse que faz questão de se aprofundar no tema segurança pública, para não se ver publicando parcialidades.
Aos jornalistas, sugiro a dedicação profunda ao tema segurança pública e polícia, e a todos os fatos que se dedicarem a cobrir, ouvindo, inclusive (e principalmente) a versão e o ponto de vista do policial — às vezes mais importante até do que a versão da polícia (instituição). Ao policial, é imprescindível a visão do jornalista como um divulgador do bom trabalho realizado, dos esforços despendidos em cada ação, e, inclusive, das carências por que passamos para exercer nossas funções. Mas, lembremos: as boas ações serão divulgadas tanto quanto as más, pelo menos, é assim que tem que ser.
              Fundamental é percebermos que tanto a imprensa quanto a polícia estão comprometidas com um mesmo objetivo: fortalecer a democracia, exaltar a cidadania e melhorar a sociedade. Maus profissionais existem em ambos os meios, mas são minoria, e não devem se sobressair em relação a uma maioria dedicada aos valores já ditos aqui.
PS1: Este post é ilustrado pelo header do Observatório da Imprensa e de alguns dos principais blogs de jornalistas que cobrem criminalidade no Brasil.
Em: Imprensa, Opinião

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