A edição deste domingo do Acre Economia traz uma entrevista exclusiva com o governador do Acre, Tião Viana. Ele fala sobre os projetos econômicos planejados pelo poder público e adianta futuros investimentos no Estado. Além disso, dá detalhes sobre o aumento para o funcionalismo que será formalizado nesta segunda-feira e quanto isso irá representar de entrada de recursos para a economia.
NELSON LIANO JR.
O governador Tião Viana (PT) conversou com exclusividade com o Acre Economia, logo depois da inauguração da Usina de Beneficiamento de Castanha de Brasiléia. Viana traduziu em números os investimentos que estão sendo feitos nos setores econômicos produtivos e de infra-estrutura do Acre para acelerar o crescimento. Também revelou o esforço para garantir aumento salarial para todo o funcionalismo estadual. Viana acredita que os investimentos nas áreas sociais como a Saúde e a Educação ajudam a fortalecer o PIB acreano.
Acre Economia – Governador, o senhor tem noção de quanto a economia do Acre cresceu nos primeiros meses do seu Governo, levando em conta os investimentos anunciados?
Tião Viana - Isso ainda não dá para medir. É preciso pelo menos um ano para fazer o balanço. Tem o período das safras rurais, de implantação de indústrias e de mudanças nas atividades comerciais com as prioridades. Tem que ser levado em conta que se está pactuando uma renegociação da dívida de três mil e quinhentas empresas com 95% de isenção dos juros e o prolongamento do parcelamento para cento e vinte meses para que todos possam estar adimplentes e ter acesso ao crédito para reaquecer a economia.
O Banco da Amazônia emprestou ao Acre para a infra-estrutura rural trezentos milhões de reais no ano passado. Há 12 anos, emprestava setenta e oito milhões. Várias indústrias já estão se instalando no Estado. Só a Usina de Castanha que inauguramos saiu de uma produção que consumia um capital de giro de 200 mil reais por ano e, agora, está movimentando 24 milhões de reais. A safra do milho saiu de 5 mil toneladas para 45 mil. A atividade da piscicultura recebeuum investimento novo de 53 milhões de reais.
A usina de preservativos está recebendo um investimento novo de 19 milhões de reais. Somando investimentos estratégicos para o desenvolvimento do Estado da ordem de 520 milhões de reais do BNDES, mais 160 milhões de reais do Banco Mundial, sem contar os recursos do Governo Federal, dá para perceber as mudanças. Nos primeiros meses, conseguimos mais 50 milhões de reais para o saneamento básico. E vamos contratar algo em torno de 300 milhões de reais até junho para poder promover trabalhos de esgotamento sanitário em todos os municípios do Acre com menos de 40 mil habitantes. Isso significa um movimento forte na nossa economia. Só programa de pavimentação de ruas prevê um investimento surpreendente com geração de emprego.
Acre Economia – Quanto será investido na pavimentação de todas as ruas do Estado?
Tião Viana - Nós já temos contratado 234 milhões de reais. Estaremos bem perto da metade do dimensionamento total do programa no seu primeiro ano. Sem contar que teremos emendas parlamentares e estamos inserindo o projeto dentro do PAC. Além da nossa capacidade de buscar crédito na área de infra-estrutura. Existem ainda as parcerias com os municípios, como com o prefeito Angelim (PT), que está numa fase de conseguir 50 milhões de reais com BNDES para a aplicação de infra-estrutura e saneamento ambiental.
Acre Economia - Governador, gostaria que o senhor esclarecesse qual a real capacidade de endividamento do Estado. Principalmente, levando-se em conta que houve mudanças nesse setor no governo Dilma em relação ao Governo Lula?
Tião Viana - O Acre tem um dos melhores índices de avaliação fiscal do Brasil. A nossa capacidade de crédito é algo admirável, em torno de 4 bilhões e 900 milhões de reais. Ainda estamos perto da metade de endividamento desse universo de disponibilidade. Claro que isso está vinculado ao momento de contrair a dívida associada à possibilidade de pagamento. Temos hoje uma fase de mobilidade na contratação de empréstimo que, se bem utilizado, é chamado de investimento e gerador de receita. Para nós, a equação de contrair empréstimos significa lançar investimento e retorno econômico com resposta em termos de receita. Como a Usina de Castanha de pequenos produtores, com o fomento do Governo, que vai contrair um empréstimo de 10 milhões de reais para comprar castanha. Estamos certos que isso representa uma receita de 30 milhões de reais no mesmo ano. Essa é uma visão econômica positiva.
Acre Economia - O que muda para o Acre, em se tratando de investimentos, a saída do presidente Lula? A presidente Dilma está ‘abrindo as portas’ para recursos virem para o Estado?
Tião Viana - Só tenho gratidão à presidente Dilma. Até agora todas as demandas que tenho tido no Governo Federal têm sido tratadas com sensibilidade e prontidão para ajudar o Estado. É uma visão de país da presidente Dilma. Ela tem respeito pelo trabalho que estamos desenvolvendo no Acre. Conhece o nosso trabalho e sabe a maneira séria como o Acre trata as questões dessa natureza. O Acre está saindo de uma transição de infra-estrutura para adaptação da sua capacidade de trabalho para transformar em produção geradora de riqueza.
A presidente Dilma conhece bem o significado disso. É preciso mudar o conceito. Quando se fala em investimento em educação, isso gera mais desenvolvimento numa região do que o investimento em grandes pro-priedades. Quando se fala em investimento em saúde, vai gerar no seu entorno mais retorno econômico do que as grandes propriedades que têm um modelo tradicional de produção. É preciso entender que, nesses 13 anos, se conseguiu triplicar a renda per capita do Estado e alcançar os melhores indicadores sociais investindo em infra-estrutura pública. Agora, é hora da infra-estrutura para o desenvolvimento econômico.
Acre Economia - Com o projeto de industrialização, o Estado descartou a opção Florestal?
Tião Viana - As duas estão completamente integradas. Num futuro próximo, poderemos chegar a mais de 1 bilhão e 500 mil reais de receita com a madeira fazendo um uso inteligente dos recursos madeireiros do Estado. As plantas industriais de Cruzeiro do Sul e Tarauacá somam 38 milhões de reais em investimento e a geração de mil e quatrocentos empregos. O Governo está mantendo a linha de acreditar na economia florestal com a incorporação de tecnologia. Isso significa uma ação de incremento do PIB acreano. Quando se fala em industrialização, estamos falando de uma nova Zona Franca do Século XXI. A Zona de Processamento de Exportação (ZPE) poderá trazer isenções para a exportação e também para a importação de insumos para a atividade industrial.
Podemos falar em cosméticos, medicamentos, produtos naturais para fins terapêuticos e indústrias que tratam do mercado regional de consumo de peças de veículos. Podemos falar ainda da indústria de alimentos. A China consome 50 toneladas de porcos por ano. O Brasil importa metade do peixe que consome. Estamos falando em expansão do mercado interno e venda para a Ásia. Também a indústria das compras governamentais não pode ser esquecida. Temos 11 olarias de porte médio que querem dobrar a sua capacidade no próximo ano e, mesmo assim, não vão dar conta da metade do consumo de tijolos que vamos precisar no Estado. Por isso, talvez tenhamos que associar com asfaltamento que é um pouco mais barato, mas que gera menos empregos.
Acre Economia - A Usina de Castanha irá vender para a Nestlé e parece que há possibilidade da Johnson & Johnson também fazer negócios com o Acre.
Tião Viana - A Johnson & Johnson está tirando uma planta industrial na Venezuela por desentendimento com aquele governo. Eles têm interesses estratégicos com os países andinos. Nós podemos receber na sede na ZPE do Acre uma planta dessa dimensão. Mas ainda é cedo para dizer que vai acontecer. Embora, posso afirmar que o Governo está trabalhando e o senador Jorge Viana (PT-AC) está empenhado. O ministro da saúde, Alexandre Padilha também está ajudando.
Acre Economia – Haverá transferência de recursos da área de desenvolvimento para garantir o aumento dos salários dos servidores?
Tião Viana - O ano de 2011 é o mais difícil da vida orçamentária do Acre. Mas as previsões são muito melhores para 2012. Então, uma negociação que soma os dois anos é mais solidária entre Governo e os servidores que merecem os maiores investimentos do Estado. Tenho certeza que o Governo tem que fazer o esforço que está fazendo para diminuir qualquer possibilidade de prejuízos para as categorias na sua política salarial. Mas também não pode ir além das suas responsabilidades e tirar dinheiro de investimentos já programados em projetos estruturantes para transferir para a despesa corrente. Mas sem servidor público não há política desenvolvimento.
Acre Economia - O senhor anunciará o aumento do reajuste nesta segunda?
Tião Viana - O anúncio está mantido dentro das responsabilidades. Não darei um real além das possibilidades orçamentárias e também não deixarei de dar um real além das possibilidades. Estou agindo com justiça, com respeito, com democracia, humildade e a firmeza de quem tem o dever de preservar o orçamento do Estado e a sua capacidade de sobrevivência financeira. No próximo ano, 10 mil servidores irão se aposentar. Se nós não tivermos previsões para pagar esses salários e incorporar novos servidores poderemos levar o Acre para ser igual ao Rio Grande do Sul. Um Estado completamente falido quanto à viabilidade orçamentária pelos encargos com os servidores que tem. É preciso dar o merecido sem desmerecer o equilíbrio financeiro do Governo.
Acre Economia - Quanto será o aumento para os servidores e o quê representará de aporte financeiro para a economia do Acre?
Tião Viana - A melhor proposta foi o aumento linear de cinco por cento em julho, cinco por cento em janeiro e cinco por cento em julho de 2012. Estamos numa fase de negociação com os servidores. Isso representa um gasto em torno de 150 milhões de reais que entrarão na economia do Estado até o próximo ano.
Sáb, 28 de Maio de 2011 20:47 Agazeta
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